Viver o evento deste fim de semana nos reacendeu uma esperança num futuro de valorização da arte e da cultura, consequentemente do turismo, depois de nos propormos a uma observação legítima e bastante discreta, apesar do barulho que parece fazer neste tipo de evento. - um barulho bom, de gente se divertindo, diga-se de passagem.
Por algum motivo resolvemos levar um café para os artistas e de repente estávamos envolvidos, bem da maneira que gostamos, com a comunidade, os artistas e o pessoal que organiza tudo.
A rua começou com muros pintados em algumas cores pastéis, lisas, e cada artista escolheu o seu, suas tintas e deu início à magia.
Durante todo o dia mais de 30 grafiteiros do Ceará e do Brasil criaram telas a céu aberto, de todos os estilos e traços, fazendo brotar do spray e do tijolo obras de artes que ficarão expostas à comunidade e a todos, do mundo inteiro, que visitam o Cumbuco.
A nossa impressão às 18H, horário de finalização do evento, é que a rua tinha crescido e se tornado um outro mundo. Mágico mesmo. É impossível entrar naquela rua hoje e se sentir indiferente às obras que nos sorriem.
O impacto cultural, arquitetônico, patrimonial, turístico e principalmente social deste tipo de evento é impossível de contabilizar em números exatos. O retorno e as variáveis indiretas, com viés econômico inclusive, são benéficas a toda gente local que vive do Turismo, ou indiretamente dele.
A nossa pergunta é: por que então tanta dificuldade em agregar recursos, engajar pessoas dispostas a patrocinar ou doar para um desenvolvimento que abraçará toda uma Coletividade?!
E nem é questão de dizer que há preconceito quanto a este ou aquele tipo de arte, até por que temos exemplos muito bem sucedidos de desenvolvimento do potencial turístico através do grafite como é o caso do "beco do Batman", em São Paulo, cuja galeria se tornou espaço de encontro e troca cultural.
Se todos tem a ganhar, por que não todos se juntarem e investirem na iniciativa?!
Não leiam como uma simples cobrança, chamada de consciência, mas como uma reflexão positiva de como podemos ajudar muito, fazendo pequenas ações. Doações.
Nós abrimos os portões do Camping e recebemos os artistas de coração aberto. Também atuamos no evento de forma intensa, porque enxergamos um futuro que talvez não seja perceptível, palpável, rentável agora, ou talvez até passe inocentemente desapercebido.
Este futuro que está em formação e que precisa valorizar o seu espaço de origem, pois é delas que depende o lugar, a sua sustentabilidade e o seu patrimônio cultural: as crianças!
Eram tantas as crianças na comunidade que estavam expostas aquele movimento de pintura, incentivadas a também pintar, colorir, perceber o potencial que a arte oferece, que, enquanto os desenhos brotavam das paredes, dezenas daquela garotada estavam formando uma concepção do quanto aquilo é importante, divertido e um possível ofício.
Nós adultos não podemos perder isso de vista, ainda que seja muito árduo pensarmos para além de retornos financeiros ou visibilidade. A moeda neste caso é bem outra. Paga com cidadania, amor ao seu espaço de origem, à sua comunidade. O que irá refletir holisticamente no futuro da região como um todo. Como um legado, um desenvolvimento ecológico e não individual.
É nessa hora que todos ganham. É nessa hora que vale a pena ter se doado tanto. É nessa hora que colocar a mão no bolso, doar latas de spray, tintas, pincéis, outras atividades, seu tempo, tudo vale a pena.
Talvez não tenhamos o reconhecimento necessário das autoridades. De alguns muros que insistem em permanecer brancos em cal, mas as crianças!! Ah, quanta motivação!
Que venha o Cumbucor 2020, 21, 22 e além. E que o Brasil e o Mundo doe, se doe e esteja presente nas linhas, nas tintas e no sentimento de dever e desenvolver o Futuro. Coletivamente!
Obrigado a Jr Zapata e Sara, organizadores gerais do evento, Bruna e Reinaldo da Sensation e os parceiros próximos e artistas todos que nos acolheram e permitiram que vivenciássemos essa experiência tão de perto.
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